Diálogo inter-religioso

Há alguns meses, recebi um convite do Guilherme (aluno do Instituto do Louriçal - no âmbito do seu trabalho final de Área de Projecto), para um colóquio inter-religioso. Acedi de bom grado, uma vez que na minha perspectiva os jovens são o prologamento de nós mesmos e, quando a espiritualidade se vislumbra nos seus corações, alguma palavra eles têm a dizer.

O debate realizou-se há dois dias e o seu objectivo foi dar a conhecer o Budismo através do Cristianismo, dado este último ser predominante no nosso país. As perguntas efectuadas foram muito bem elaboradas, para ambos os lados. Estes foram alguns dos temas abordados: as raízes do Budismo; a religião faz parte integrante do ser humano?; a crença exarcebada pode cegar?; a fé; definir numa só palavra Budismo; fundamentalismo religioso; os pontos comuns às duas religiões; o Budismo como filosofia de vida; a noção de karma; vantagens do diálogo inter-religioso...

Confesso que tive muita dificuldade em desenvolver temas onde as palavras crença, castigo, fanatismo, fé exarcebada estavam incluídas. Essas palavras têm um passado e uma conotação tão pesada na nossa tradição, nas nossas origens mais profundas, que tive a sensação de estar a vivenciá-las no momento. Nesse sentido, agradeço ao Budismo ter encontrado uma nova visão, uma filosofia de vida de crescimento pessoal, um desapego de ilusões criadas pela ignorância e um novo sentido de vida altruísta.

Agradeço aos jovens deste país estas iniciativas de preocupação espiritual, rompendo algumas barreiras sócio-culturais ainda existentes e dando a conhecer caminhos alternativos.

Não devemos esquecer as palavras de S.S. Dalai Lama no último ensinamento que deu em Lisboa, quando disse que Portugal tem uma raiz Cristã e por isso não deve abandonar essa tradição. No entanto, podemos constatar que existem actualmente no nosso país cerca de 15000 praticantes e interessados na Filosofia Budista. Podemos assim, através do diálogo e compreensão, abrir ou fechar portas e enriquecermo-nos mutuamente. Cada um é o único responsável pelo seu próprio caminho.*