Oferenda

27.7.09


T
odas as flores e todos os frutos, as ervas medicinais e todos os tesoiros do Universo, as águas puras e deliciosas, as montanhas feitas de preciosas gemas, as encantadoras solidões dos bosques, as lianas lindíssimas ornadas de flores, as árvores com os ramos vergando sob o peso dos frutos, os perfumes dos mundos divinos e humanos, a árvore-dos-desejos e as árvores de pedrarias resplandecentes, os lagos espargidos de flores de lótus e suspensos no canto dos cisnes, as plantas silvestres e as de cultivo, e tudo o que é nobre ornamento disseminado na imensidão do espaço, tudo isto, que não pertence a ninguém, considero-o no meu espírito e ofereço-o aos Budas, sublimes entre os seres, e aos Seus Filhos.


Em termas perfumadas e que encantam os olhos com as suas colunas esplêndidas de jóias, cortinas resplandecentes bordadas a pérolas e lajes de puro e brilhante cristal, com muitas jarras incrustadas de gemas preciosas, transbordando de água perfumada, ao som de cânticos e de música, preparo o banho dos Budas e de Seus Filhos.


Com toalhas sem igual, impregnadas de incensos, impecáveis e imaculadas, seco-lhes o corpo e visto-os, enfim, com túnicas sedosas e perfumadas.


Com roupas etéreas, delicadas, finíssimas, esplendentes, e com profusos ornamentos, adorno Samantabhadra, Ajita, Manjushri, Lokeshvara e os outros Bodhisattvas.


Com fragrâncias delicadas, de perfume penetrando até aos confins do Universo, unjo os corpos de todos os Budas, resplandecentes como oiro purificado, lustroso e polido.


Com todas as flores de perfume inebriante, o jasmim, o lótus azul e a eritrina, com graciosas guirlandas, honro os tão veneráveis Budas.


Ofereço-lhes nuvens de incenso que alegram o coração, com o seu subtil e envolvente perfume. Presto-lhes homenagem com vasto sortido de alimentos e bebidas celestiais.


Dispostos em leitos de lótus de oiro, acendo archotes de pedrarias preciosas e lanço, ao longo de lajes polidas de perfume, punhados de pétalas de flores encantadas.


Ofereço a estes Misericordiosos inconcebíveis palácios celestiais decorados de magníficas grinaldas de pérolas e de jóias, ornamentos de um céu sem limite, reverberando melodiosos hinos.


Aos possantes Budas apresento altas umbrelas com requintadas pedrarias, de cabos em oiro e grácil forma, incrustados de pérolas e de um brilho estonteante.


Que se levantem nuvens de cantos e toadas que deleitam o coração, nuvens de oferendas que apaziguam a dor dos seres!


Sobre todas as jóias do supremo Dharma, sobre stupas e estátuas, caiam chuvas contínuas de flores, jóias e substâncias preciosas!


Com hinos lindos, marés de ritmos harmoniosos, exalto os que são oceanos de mérito; que sem cessar estes cânticos de louvor se levantem em revoada para eles!


Não tenho o mais pequeno mérito e sou tão pobre que nada mais posso oferecer. Hajam por bem os Protectores — sempre pensando no bem dos outros —, graças aos Seus poderes, receber estas oferendas para o meu bem!


Eu mesmo me ofereço para toda a eternidade aos Vencedores e aos Seus Filhos. Admitam-me ao vosso serviço, oh Seres Sublimes! É com devoção que me faço vosso servidor.


Shantideva, Bodhicharyavatara - O Caminho para a Iluminação,
trad. Filipe Valente Rocha, Livros e Leituras, 1998

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