Yoga da vassoura

3.7.09


foto (c) Dang Ngo


O ANCIÃO IGNORANTE

Era um velho muito simples e analfabeto. Queria encontrar a paz interior e dedicar os últimos anos da sua existência a melhorar a sua vida interior. Dirigiu-se a um mosteiro e bateu às suas portas. Explicou aos monges que tinha um vivo desejo de encontrar o sentido da vida, de se purificar e achar a serenidade definitiva, pelo que pedia que o aceitassem como noviço. Os monges pensaram que o homem era tão simples e tão inculto que nem poderia entender os ensinamentos mais básicos, nem ler as Escrituras; mas como o viram tão motivado e com intenção pura, deram-lhe uma vassoura e disseram-lhe que se ocupasse diariamente de varrer o claustro.
Durante anos, o ancião varreu o claustro muito atenta e esmeradamente, sem deixar de fazê-lo um único dia. Paulatinamente, todos os homens começaram a ver mudanças notáveis no varredor. Parecia tão sossegado, gozoso, harmonioso! Todo ele emanava uma atmosfera de sublime serenidade. A sua inspiradora presença chamava tanto a atenção que os monges se aperceberam de que o homem tinha atingido um considerável grau de evolução espiritual e uma grande pureza de coração. Perplexos, perguntaram-lhe se tinha seguido alguma prática ou método especial, mas o velho, com toda a humildade, disse:
— Não, não fiz nada de especial, acreditem. Dediquei-me diariamente, com amor, a limpar o claustro, e cada vez que varria o lixo, pensava que estava também a varrer o meu coração, limpando-me de todo o veneno.

Ramiro Calle, Os Melhores Contos Espirituais do Oriente
A Esfera dos Livros, 2006

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