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24.11.09



OS TRÊS CRÂNIOS

Nas remotas regiões dos Himalaias, um peregrino encontrou três crânios e fez chegar a notícia ao monarca do reino.
O monarca pediu que lhe levassem os três crânios e, após os observar atentamente, mandou chamar o seu médico particular. Entregou-lhos e disse:
— Tu que és um homem sapientíssimo, quero que investigues estes crânios a fundo e me digas qual dos seus proprietários era a melhor pessoa.
O médico submeteu os três crânios a uma rigorosa investigação, que demorou semanas. Depois, foi visitar o monarca e colocou os três crânios numa mesa.
— Sua Majestade — disse —, já tenho a resposta.
Apontou para um dos crânios e disse:
— Este era o crânio da pessoa mais bondosa.
— Explique-me porquê — ordenou o monarca.
O médico explicou:
— Peguei num crânio e passei um arame por um ouvido, e o arame saiu directamente pelo outro ouvido. Tratava-se de um homem a quem as coisas entravam por um ouvido e saíam pelo outro.
Após uma pausa, o médico acrescentou:
— Estudei o segundo crânio e passei o arame por um ouvido, e o cabo saiu directamente pela boca. Tratava-se, sem dúvida, de uma pessoa indiscreta e que automaticamente contava tudo o que ouvia.
O monarca permanecia na expectativa. E o médico acrescentou:
— Peguei no terceiro crânio e passei o mesmo arame por um ouvido, e o cabo emergiu por baixo do crânio, na direcção do coração. Esta pessoa amadurecia no seu coração aquilo que escutava e identificava-se com isso. Era, sem qualquer tipo de dúvida, a mais bondosa... e a mais sábia.

Ramiro Calle, Os Melhores Contos Espirituais do Oriente
A Esfera dos Livros, 2006

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