Todas as histórias devem ter uma história, quero dizer, contar alguma coisa. Essa tarefa de contar, situa-se entre o princípio que sempre deve iniciar-se com o "Era uma vez" e o final que, como é de esperar, é bom que seja feliz, quero dizer, traga um sinal de esperança. Este texto, que começo agora a escrever, não foge dessas regras. Devo, no entanto, dizer-vos que o meu "era uma vez" é um pouco diferente da grande maioria das maravilhosas histórias que se contam e iniciam pelo mesmo "era uma vez". E porquê? Porque muitas dessas histórias são imaginárias, vividas em sonho por muitos dos que as escrevem. Neste caso, embora com um pouquinho de imaginação, o que quero é escrever-vos a verdade. Aí, utilizei uma palavra cheia de mistérios, a palavra "verdade"!
A maior parte das pessoas considera que a verdade é o contrário da mentira; outros, ainda em grande maioria, dizem que a verdade depende de quem a diz. Há ainda algumas cabecinhas que, com medo ou vergonha ou falta de jeito para a procurarem, cedo acabam por dizer - muito tristes - que a verdade não existe, é como um fantasma ou um lobisomem, imagine-se, mas não existe. Raras são as pessoas que acreditam nela e, mais raras ainda, são as que procuram ou defendem. Muitíssimo mais raras são as pessoas que a amam e por ela dão a vida. Sobretudo, porque essas pessoas sabem - e talvez seja a única coisa que sabem mesmo - que, no fim das suas vidas, em nome da verdade, vão ter que confessar que nada sabem. A verdade é que, só os grandes sábios, sabem mesmo que nada sabem. Porque nada saber é uma grande, uma enorme sabedoria.
Fátima Murta, Agostinho da Silva - O Português dos 3 M, Zéfiro
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